Representatividade e Mortal Kombat X
Não! Não, não e não! Essa postagem não vai ser sobre a dublagem da Pitty!
Kitana concorda conosco. Representatividade importa! |
Esses tempos, numa livraria, fiz uma aposta com uma amiga: quem encontrasse uma capa de livro com uma pessoa negra ganharia. Saímos de lá estupefatos, não havia uma capa de livro sequer com um ser humano negro estampado! Os livros que contêm negros em suas capas são livros SOBRE negros, só esses (e são poucos). Que estranho, num país onde metade de sua população não é branca, por que diabos as editoras direcionam seus livros somente àqueles de pele branca? A mesma lógica pode ser aplicada a não-heterossexuais, pessoas trans e até mesmo meninas. O público não é bem representado. Quase nunca.
Estou falando de representatividade. Um assunto que se torna cada dia mais recorrente no mundo dos games. Nunca ouviu falar disso? Bem, o Geledés tem um artigo ótimo sobre assunto. Recomendo a leitura aqui. Pra você que não quer desviar de página, explico brevemente: padrões midiáticos refletem ideais, esses ideais normalmente vêm da classe dominante, que é opressora e divulga estereótipos negativos por tradição. Assim, as pessoas que estamos acostumades a ver nas novelas, nas propagandas, nos filmes etc., não representam nem mesmo o público que as assiste - divulgando padrões que são reflexos de toda a podridão da história humana: racismo, intolerância à diversidade sexual, machismo, transfobia e por aí vai.
Estou falando de representatividade. Um assunto que se torna cada dia mais recorrente no mundo dos games. Nunca ouviu falar disso? Bem, o Geledés tem um artigo ótimo sobre assunto. Recomendo a leitura aqui. Pra você que não quer desviar de página, explico brevemente: padrões midiáticos refletem ideais, esses ideais normalmente vêm da classe dominante, que é opressora e divulga estereótipos negativos por tradição. Assim, as pessoas que estamos acostumades a ver nas novelas, nas propagandas, nos filmes etc., não representam nem mesmo o público que as assiste - divulgando padrões que são reflexos de toda a podridão da história humana: racismo, intolerância à diversidade sexual, machismo, transfobia e por aí vai.
Calma, o padrão não é sempre opressor. É só o Nicholas Sparks que prefere escrever apenas pra casais brancos e heterossexuais. |
Os padrões midiáticos estão presentes em qualquer tipo de mídia. Inclusive nos games.
Todo mundo já está careca de saber que as mulheres raramente são protagonistas em jogos. Vale relembrar que normalmente elas são colocadas sob o papel de recompensa (Peach e Zelda), no padrão "Donzela em Perigo", onde simplesmente não agem, tornando-se objetos que vão motivar o protagonista a cumprir seu objetivo. Não obstante, quando elas enfim protagonizam o jogo, não o fazem para que as jogadoras identifiquem-se com a história, mas sim para entreter o público masculino, com trajes super sensuais que ficam ridículos e fora de contexto dadas as situações de combate em que essas mesmas personagens são colocadas. Exemplos desse segundo caso são Elza (Fairy Tale), Lara Croft (Tomb Raider) e Bayonetta. O tumblr Repair Her Armor (repare a armadura dela) trata especificamente das vestimentas femininas em jogos e quadrinhos.
Há uma série de vídeos interessantíssimos a respeito do assunto no canal da Anitta Sarkeesian, em inglês, pra quem tiver maior interesse nos estereótipos femininos nos jogos.
Guerreiras: quando presentes, possuem peitos e glúteos saltitantes. Acima, duas versões da mesma personagem. Fácil adivinhar qual é a original, né? |
A questão da invisibilização e estereotipação torna-se pior quando se trata de qualquer coisa que fuja ao padrão cisheterossexual. Personagens não-heterossexuais são raros em jogos de luta, mal posso lembrar de algum agora. Pessoas trans então? Nem se fala. Quando as temos, são "traps" hiper-sexualizadas (ou seja, feitas para ~enganar~ o jogador homem, literalmente um fetiche, como a Poison de Street Fighter).
Negros, por outro lado, têm ganhado mais e mais espaço - parece que as produtoras já se ligaram há algum tempo que essas pessoas também jogam video-games e leem quadrinhos. No entanto, protagonismo negro é raríssimo, tornando mais uma vez a questão necessária de discussão.
Por que introduzo todo este debate? Pra mostrar o quanto o novo Mortal Kombat está subversivo. Hell yeah~ Prontes?
Mortal Kombat X e seus protagonistas nada convencionais
A franquia de jogos mega violenta voltou. Desde o seu reinício em 2011, quando a Warner Brothers comprou a Midway Games e fundou a NetherRealm Studios, a série reclamou sua antiga glória. Agora, claramente influenciada pelo roteiro dos quadrinhos, meio de entretenimento onde já se discute representatividade há tempos, a décima edição do jogo já pode ser adquirida - e tem muito mais do que crânios e sangue pra nos mostrar através de seus novos protagonistas.
A história se passa 25 anos depois da história anterior, Mortal Kombat 9. Agora, os descendentes dos protagonistas da antiga versão da série é que estão em cena.
Cassandra Cage
Corpo inteiramente coberto. Que novidade! |
Kung Jin
Ele é foda, ele é forte, ele é protagonista e ele é gay. |
Jacqueline Briggs
Eaí, vai encarar? |
“Bem, eu tinha 9 anos quando Star Trek foi ao ar. Eu olhei para a televisão e saí correndo pela casa gritando: 'Vem aqui, mãe, todo mundo, depressa, vem logo! Tem uma moça negra na televisão e ela não é empregada!'. Naquele exato momento eu soube que podia ser o que eu quisesse.”
- Whoopi Goldberg
Takeda Takahashi
Takeda, minoria incomum? |
E o resto das meninas?
Bom, vou reservar este espaço pra comparar as roupas das personagens nas edições anteriores do jogo com a versão X. Com as comparações vai ficar óbvio pra vocês que o jogo sempre gritava SEXO, SUPER PEITOS e SUPER BUNDAS na cara dos jogadores, especialmente a partir do Mortal Kombat: Ascension. Repito, em Mortal Kombat X, elas continuam sexies, mas dessa vez com corpos possíveis e respeitando o contexto. O que significa que você não vai ver uma roupa que tape somente os mamilos da lutadora enquanto ela luta contra com um brutamontes no meio do gelo.
Sonya Blade
Sonya passou de atleta 9vinha a manequim de sex shop, até finalmente tornar-se uma sargento. |
Mileena
Kitana foi a que permaneceu mais sensual. Ainda tem boa parte de seu corpo à mostra, mas dessa vez até que dá pra comprar a ideia. |
Conclusão
As mudanças são sutis (o jogo ainda apresente poucas personagens femininas e não tem nenhuma pessoa trans, por exemplo), mas considerando a história da representatividade nos jogos, não são insignificantes. E mais: a revolta de alguns jogadores com as novas roupas e principalmente com a sexualidade de Kung Jin revelam o quão tradicionalmente conservador está o público, que nem ao menos aceita representações diversas de gênero, etnia, sexualidade ou qualquer outra característica individual invisibilizada. De qualquer forma, chamo o que estamos tendo de progresso - é a conscientização de que dá, sim, pra ter um jogo decente sem ofender pessoas e representando minorias. E você? Como vê essas mudanças?
Deixo vocês com os lindíssimos <3
Au revoir ~
Sobre o Autor
Gosta de línguas, reflexões introspectivas, UTAU/Vocaloid, discussões sobre gênero e sexualidade, do céu e de fazer da vida alheia um bordado de renda (de chita filó).
Acho representatividade importante mas não é determinante no meu julgamento quanto a gostar ou não de um jogo.
ResponderExcluirParei de ler em "maioria opressora". Eu devia ter pegado a dica que estava em um site SJW quando vi o link pra um site no maior estilo "oligarquia da minoria".
ResponderExcluirEu nunca disse que a classe opressora era maioria. :-}
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