Léo joga: Viridi

Há um tempo eu procurava joguinhos que rodassem no meu Linux e que me fossem minimamente interessantes. Não consigo mais ver sentido na busca incessante por nível dos MMOs, nunca vi graça na efemeridade das partidas dos MOBAs e dating sims são muuuuuito looooongos e cheios de heterossexualidade chata (ou sexualidades analogamente chatas a essa heterossexualidade aí). Foi no meio dessa insatisfação que encontrei o Viridi, um joguinho bem simples de simulação de plantas. 

meu potinho de e-suculentas

A pira de se ater a coisas práticas tem me apetecido ultimamente. Não, isso não quer dizer que debates sobre o sentido do existir não apareçam mais no meu rolê - muito pelo contrário, parece que eles persistem apesar da vontade de pragmatismo. De qualquer maneira, é o que me parece mais razoável agora: pensar o presente, o palpável, ficar aqui, respirar fundo & tal.
Tem um poema do Alberto Caeiro que exemplifica bem o que se ater a coisas práticas significa pra mim. Tá aí:
X


«Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»


«Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»


«Muita coisa mais do que isso,
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram.»


«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»

Digamos que o guardador de rebanhos, ao ouvir do vento somente o que o vento objetivamente ~diz, esteja se atendo ao que é prático, ao que é real. O outro, que fica lá pensando que o vento fala de um milhão de coisas, que representa várias paradas extraventísticas.... bem, esse aí estaria procurando cabelo em ovo, entende? Aquela coisa de procurar sentido onde não tem, elaborar significados a partir de acasos etc. 
Bem, foi nessa vontade de ficar nas coisas reais que achei o Viridi. E, eu sei, cuidar de plantas virtuais não é algo lá super prático, mas juro que regar pixels tem me feito lembrar que o vento só fala do vento e que qualquer parada além disso é mentira e lero-lero da minha cabeça.
Por isso acho que dá pra dizer que o jogo é terapêutico, sabe? Eu quis me ater a coisas práticas - tarefas reais, sem interpretação pro além - e o jogo me ajudou nisso. 


Eu tô falando de evitar nóias, sabe? Quando aquele alguém especial não te responde por um tempo e tu pensa que ele te odeia, que fez mil cagadas; quando de repente surge um silêncio no meio de uma conversa entusiasmada e tu pensa (como se o silêncio fosse um crime) que a culpa é tua; quando acontece uma treta no meio do rolê e tu insiste em se sentir o causador de tudo.... nóias bestas que a gente cria. Nóias bestas que eu quero evitar.
Tem algo na trilha sonora do Viridi, algo na vontade que te dá de cuidar bem das e-suculentas, algo no botão que arranca as ervas daninhas do teu vaso, ou talvez no plano de fundo abstrato... não sei!, tem algo no jogo que te lembra que a nóia tá no além e o agora é outra coisa ainda a ser descoberta. E talvez seja contraditório encontrar um significado pós-jogo no esquema do jogo que te propõe o não-significado-pra-além-disso-aqui, mas desde que esse significado me lembre que todos os outros significados pro além são inferências mentirosas, eu tô me permitindo segurar essa contradição. É uma contradição benéfica, é um lembrete da minha incapacidade de saber de tudo, é um cultivo da minha ignorância. É muito ótimo & positivo. Pode crer.

suculentas novas toda semana

Dá pra adquirir uma e-suculenta toda semana de graça, a partir da lojinha ingame, ou comprar as que der vontade de comprar por mais ou menos 99 centavos de Trump. Cada espécie tem uma necessidade de h2o digital diferente - o que significa que não é preciso regá-las todas todo dia.  Ainda, dá pra ter mais vasos, que custam alguns Trumps também. 
Outra funcionalidade bacana é o modo férias, que é basicamente uma pausa no jogo. Tuas plantinhas não vão morrer e tudo vai ficar ótimo quando a temporada na praia acabar. A ideia do jogo é fazer bem e, talvez, meditar, então faz todo o sentido que uma pausa aconteça embora o jogo tente imitar a vida com o lance das plantas nascendo em tempo real & tal.
Ah!, a única coisa que desgostei foi a necessidade de conexão com a internet. Como os dados do teu potinho ficam armazenados na nuvem, ter uma conexão ali vai ser necessário pro Viridi rodar. Bei, não vai rolar regar plantinhas no bus quando o plano da 3G esgotar...

Detalhes menos viajados

Nome oficial: Viridi 
Lançamento: 20 de agosto de 2015
Plataformas: Android, iOS, Linux (via Steam), Windows e OS X
Estúdio: Ice Water Games
Website: http://www.icewatergames.com/viridi/
Autor da trilha sonora incrível que eu amei: Michael Bell
Frase favorita que aparece sempre que eu adquiro uma suculenta nova: Life is fleething. Death is eternal. Take good care of me.


É isso aí. Vamo dale nessas plantinhas. Bjão do Léo mais ao léu do que nunca.

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Sobre o Autor

Gosta de línguas, reflexões introspectivas, UTAU/Vocaloid, discussões sobre gênero e sexualidade, do céu e de fazer da vida alheia um bordado de renda (de chita filó).

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